Planejar ou perecer: desafios para a reinvenção do setor público

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Arie de Geus, um estrategista da Shell, dizia que a função do planejamento não era produzir planos, mas mudar a mentalidade (o mindset) dos gestores. No setor público, onde a cultura organizacional é refém da inércia jurídica e legal e da lógica incremental, o apelo é ainda mais dramático.

O planejamento estratégico em políticas públicas é um processo essencial para que governos e organizações públicas possam atender às demandas da sociedade de maneira eficiente e adaptável. Nenhum governo pode ser melhor que sua capacidade de planejar estrategicamente. Este é o verdadeiro teto para a efetividade das políticas públicas, como diria Carlos Matus.

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O planejamento estratégico é uma aposta, nunca uma asserção definitiva sobre o futuro. Aliás, a improvisação, sempre tempestiva, é melhor que qualquer metodologia inflexível e estática.

Desde o período pós-guerra, o planejamento governamental no Brasil evoluiu de um modelo centralizado e autoritário para abordagens mais inclusivas e participativas. A Constituição Federal de 1988 marcou um ponto de transição ao institucionalizar o ciclo dos Planos Plurianuais (PPAs), que permitiram uma gestão pública mais orientada à estratégia e reflexiva, menos formatada como “lista de desejos”.

No início dos anos 2000, o planejamento passou a incorporar práticas de gestão participativa, refletindo a influência das críticas à New Public Management e ao “dogma da deficiência”.

Gestões inovadoras no governo federal abriram espaço à inovação e flexibilidade na formulação de políticas. Um marco foi o PPA 2004-2008, conhecido como Plano Brasil de Todos: “Para implantar esse projeto de desenvolvimento é preciso que o Estado tenha um papel decisivo, como condutor do desenvolvimento social e regional e como indutor do crescimento econômico” (Mensagem Presidencial pág. 14).

Um elemento crucial para o sucesso do planejamento estratégico é o envolvimento de stakeholders, sobretudo os entes federativos – atores fundamentais num modelo de competências concorrentes e compartilhadas.

Envolver a sociedade civil, o setor privado e a academia permitem que as políticas públicas reflitam as necessidades e expectativas da população e incorporem conhecimentos técnicos e científicos. Esse processo de colaboração, além de fortalecer a legitimidade das políticas, contribui para uma implementação mais eficiente e para o monitoramento contínuo dos resultados.

O uso de evidências e indicadores de desempenho é igualmente fundamental. Políticas baseadas em dados permitem que gestores avaliem continuamente a eficácia das intervenções e façam ajustes quando necessário. Além disso, a transparência no compartilhamento dos resultados gera accountability, aumentando a confiança pública nas políticas governamentais.

Esse foco em evidências é complementado pelo alinhamento com os ODS, que estabelecem metas globais de sustentabilidade e inclusão. Ao adotar esses objetivos, o planejamento estratégico em políticas públicas ganha uma perspectiva holística, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para o enfrentamento de desafios globais como a mudança climática e a desigualdade.

A inovação é outro pilar do planejamento estratégico, com metodologias ágeis e ciclos iterativos que promovem a adaptação constante. Mas, para isso, é imperativo olhar a experimentação e o erro não intencional como momentos de aprendizagem, e não de punição do gestor. A experimentação controlada possibilita a testagem de novas abordagens, e a análise de cenários permite que gestores antecipem desafios e oportunidades futuras, fortalecendo a resiliência das políticas públicas.

Finalmente, a comunicação e a transparência são fundamentais para garantir a participação e o engajamento da sociedade. A divulgação clara e contínua das ações e dos resultados das políticas públicas não apenas promove accountability, mas também fortalece a colaboração entre governo e sociedade, essencial para a superação de desafios complexos.

Em conclusão, o planejamento estratégico em políticas públicas é um instrumento indispensável para que os governos promovam um desenvolvimento sustentável e inclusivo. A integração de stakeholders, o uso de evidências, o alinhamento com os ODS e a promoção da transparência e da inovação são aspectos que, quando bem aplicados, resultam em políticas mais eficazes e alinhadas às necessidades da sociedade.

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