Por infidelidades, Raquel Lyra tira cargos do PL de Bolsonaro e se aproxima do PT de Lula

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A posição contrária aos interesses da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), em uma votação na Assembleia Legislativa rendeu exonerações para partidos como PL e MDB nos primeiros escalões estaduais. A reação de Lyra ocorre após o aval das siglas durante a tramitação da emenda que antecipa o fim das faixas salariais de policiais militares e bombeiros para 2025. Alinhado ao distanciamento, a gestora se aproxima do PP, que já compõe sua base, e do PT do presidente Lula.

Nesta terça-feira, a governadora publicou no Diário Oficial a demissão de nomes ligados aos deputados federais Coronel Meira e Joel da Harpa, ambos do PL. Durante a tramitação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro contribuiu para a sua derrota.

Já no caso do MDB, a rusga ocorre diante da proximidade das eleições municipais. A sigla já declarou apoio ao adversário da governadora em Recife, o prefeito João Campos (PSB), e, por isso, perdeu a presidência da Junta Comercial, que era ocupada por Gabriel Cavalcante.

Nesta dança das cadeiras, quem se beneficia é o Progressistas, que tem oito das doze cadeiras que dão base a Lyra na Assembleia. Como recompensa pela fidelidade, a sigla ocupará o comando do Detran no estado, que desde o início da gestão estava com o PL.

O troca-troca entre siglas beneficiadas marca o governo de Lyra, que vem enfrentando dificuldades na articulação política. Na avaliação da líder da oposição, Dani Portela (PSOL), este fenômeno se dá pela falta de governabilidade, que ela atribui à existência da bancada independente — ala autônoma que tem 20 parlamentares, sendo maior que a base (12) e a oposição (17).

— Tem sido difícil localizar politicamente os dois campos na Assembleia, isso acabou fragilizando o próprio governo. Você chega no dia das votações sem certeza do resultado. Por isso, Raquel faz o jogo da velha política, dando e tirando cargos — diz Portela.

Integrante da oposição que tem um diálogo mais próximo com o Palácio das Princesas, João Paulo (PT) minimiza as exonerações e diz que Raquel Lyra está tomando medidas legítimas:

— É uma ação política do governo. Ela está com muitas dificuldades e, para superar, está tomando medidas — afirma.

O PT de João Paulo e do presidente Lula ainda não tem data para entrar no governo, mas segundo articuladores pode embarcar em breve. Atualmente, a sigla tem três deputados estaduais e tem votado junto a Lyra nas principais matérias.

Entre fevereiro e agosto do ano passado, o PT integrou a ala independente e decidiu migrar para a oposição para obter maior destaque dentro do parlamento.

Reveses no Legislativo

A saída do PL do governo representa menos cinco votos na Assembleia Legislativa para a governadora, que já havia perdido seu maior aliado — o tucano e presidente Álvaro Porto.

A relação entre os dois azedou durante a tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O principal impasse ocorreu com a insistência de Lyra em em manter o excedente da arrecadação limitado ao Executivo e a judicialização, após veto da Casa.

Na ocasião, o presidente votou pela derrubada e chegou a publicar nas redes sociais uma crítica pela ausência de diálogo com a governadora. A crise se intensificou em fevereiro, quando o áudio de seu microfone vazou enquanto falava sobre o discurso de Raquel Lyra:

— E o discurso dela, eu não entendi nada, conversou merda demais e não disse nada.

Desde então, Porto autorizou a migração de seu grupo político para o Republicanos, partido da bancada independente na Assembleia e base do prefeito João Campos (PSB), adversário de Raquel. A expectativa é que Porto também venha a trocar de partido, mas seria preciso aguardar a janela partidária de 2026 ou pleitear o embarque na sigla via Justiça.

O Globo

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