Proteção de Nísia se enfraquece diante da falta e perda de vacinas

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A pressão em torno dos problemas relacionados à gestão de vacinas no país tem o potencial de minar o apoio à ministra da Saúde, Nísia Trindade. 

Dentro do governo, um dos aspectos citados a seu favor é justamente seu “prestígio” entre veículos de comunicação. Haveria, de acordo com essa percepção, uma boa vontade de parte dos veículos com relação à sua gestão. Ao longo dos últimos meses, no entanto, reuniu-se uma quantidade importante de levantamentos mostrando desperdício de vacinas e falta de imunizantes. 

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Os argumentos do ministério para justificar o problema foram pouco convincentes, o que explica em parte o tema continuar em debate.

Diante da pressão, a equipe do Ministério da Saúde convocou uma entrevista coletiva na última segunda-feira (25). Como mostrou a repórter Jéssica Gotlib aos assinantes do JOTA, o governo anunciou providências que já haviam sido apresentadas, como a construção de um painel de monitoramento e a adoção de estratégia de diversificação de compras de fornecedores, além de entregas de produtos de forma escalonada.

Os levantamentos apresentados pelos veículos de comunicação, além do realizado pela Confederação Nacional dos Municípios, atingem também outro trunfo de Nísia, que é a sua experiência técnica. 

O fato de problemas enfrentados ocorrerem justamente numa área em que a ministra tem familiaridade é considerado por muitos um baque. Nísia é sempre lembrada por sua gestão à frente da Fiocruz, principalmente no período da pandemia de Covid-19. Era de se esperar, portanto, que num tema na área de seu domínio medidas pudessem ser adotadas para se evitar o desgaste.

Uma das perguntas é: diante da iminência da perda de estoques por prazo de validade, por que não fazer doação? Uma operação como esta não é simples e, portanto, nem sempre possível. Mas, diante da iminência da perda de doses ou das dificuldades nas compras, havia possibilidade de o ministério trazer o tema a público, antes que levantamentos fossem realizados e apresentados. 

Provoca também inquietação dentro do governo o fato de que este assunto deveria ser manancial de notícias positivas. 

Desde a campanha eleitoral, havia a intenção da equipe de Lula de fortalecer o Programa Nacional de Imunizações. No fim do ano passado, os índices vacinais melhoraram, mas a conquista não reverberou. Pior, foi agora eclipsada pelos levantamentos de falta de vacina e perdas. 

A pressão em torno do cargo de Nísia se reduziu ao longo dos últimos meses. E essa folga ampliou-se depois que o nome do deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ) foi associado ao laboratório investigado pela infecção de pacientes pelo vírus HIV após receberem órgãos transplantados. O parlamentar era um dos nomes preferidos pelo centrão para ocupar o posto numa eventual reforma ministerial em 2025.

Esta trégua, contudo, não é eterna. A pasta, em virtude do seu grande orçamento e capilaridade, é costumeiramente alvo de cobiça de políticos, e novos nomes de postulantes certamente vão surgir. Há espaço para que a imagem da gestão de Nísia se fortaleça até a próxima investida, esperada para o início do próximo ano. Mas a equipe sabe que precisará agir de forma rápida para recuperar os trunfos até agora exibidos pela ministra.

Além da questão política, há a questão sanitária. Não há como deixar de lado o impacto negativo que a falta de vacinas, mesmo que esporádica e localizada, exerce sobre o ânimo da população.

O Programa Nacional de Imunizações começou a enfrentar dificuldades em 2016, com uma redução da cobertura vacinal. O movimento antivacina tem um papel inegável nestes indicadores. Mas apenas campanhas para mobilização, por mais certeiras que sejam, não são suficientes para reverter o quadro. 

Qual a mensagem que fica para um adulto que, ao levar uma criança ao posto de vacinação, recebe a notícia de que terá de voltar outro dia porque o imunizante não está disponível? Que talvez não seja um problema tão urgente assim, que este é um tema que se pode adiar. Não apenas se perde a oportunidade de melhorar as taxas vacinais e de se proteger uma criança, mas se desperdiça um esforço enorme para mobilização.

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