PT conta com surpresas e testa discursos diferentes para bater a direita em Cuiabá e Natal

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Lúdio Cabral quer que você saiba que ele é cristão, contra o aborto, contra a “ideologia de gênero nas escolas”, contra a liberação das drogas. E a favor de usar a prefeitura para estimular empreendedores a gerar riqueza. Já Abílio Brunini, candidato do PL, quer que você saiba outra coisa sobre o adversário no segundo turno em Cuiabá: Lúdio, com esse discurso que assentaria a um político de direita ou do centrão, é deputado estadual do PT. Lúdio é Lula. Lúdio é 13.

A preocupação do bolsonarista Abílio não é sem razão. Em uma cidade que deu 61,5% dos votos a Bolsonaro no segundo turno em 2022, e em um estado que não elegeu nenhum prefeito do PT este ano, Lúdio Cabral surge com força inesperada no segundo turno. E faz campanha associando-se mais ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (pai de sua vice, do PSD), e ao vice Geraldo Alckmin que ao presidente. E usando branco, nunca vermelho.

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Depois de passar boa parte do ano em terceiro nas pesquisas, o petista cresceu no fim do primeiro turno e agora aparece empatado tecnicamente em algumas pesquisas com o candidato do PL, em uma disputa que, no papel, deveria ser fácil para a direita. Afinal, Abílio é um bolsonarista-raiz em uma terra que rejeitou o PT recentemente e conta com visitas repetidas do ex-presidente, de Michelle Bolsonaro e de figuras como Damares Alves.

Enquanto o PT, escaldado pelo primeiro turno e pelas pesquisas desfavoráveis em São Paulo e Fortaleza, discute como fugir do cerco eleitoral da direita e como falar com as periferias. Lúdio testa o caminho de apontar para o centro e até para a direita. Ele tem a companhia de outra surpresa positiva para o partido: a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN), que tenta outra abordagem. Ela também passou quase todo o primeiro turno em um discreto terceiro lugar e agora encurta, a cada pesquisa, a distância que a separa de Paulinho Freire, candidato do União Brasil em coligação com a fina flor da direita e do centrão: PL, PP, Republicanos, PSDB.

Lula venceu em Natal por pouco no segundo turno (53% a 47%), e a deputada não espera que ninguém lembre ao eleitor qual é o seu partido. Fala em cultura e igualdade racial, mas investe mais tempo mais em propostas de áreas tradicionalmente críticas para os trabalhadores, como os ônibus, e em promessas de obras e de reativação do comércio. Usa vermelho nos debates e tem um jingle-chiclete: “Lula lá, e Natália cá. Lula é 13, Natália é 13. Lula é 13, Natália é 13”.

Na última semana, o presidente, que mantém prudente distância de Cuiabá, fez comício ao lado de Natália e da impopular governadora petista Fátima Bezerra em um conjunto residencial no norte de Natal, região em que ele teve 52% no primeiro turno em 2022. Lá, a candidata do PT à prefeitura ficou em terceiro há duas semanas, com metade disso (25,5%). É esse potencial de crescimento que a associação ao governo federal e o anúncio de 400 novas moradias do Minha Casa Minha Vida tentam despertar.

As zonas em que Natália teve melhor desempenho reúnem os bairros mais ricos e, neles, a votação de Lula, ainda que maior que a dela, garantiu vantagem pequena sobre Bolsonaro. É o contrário de Cuiabá, onde Lúdio já teve a maior votação nos bairros populares da zona sul, reduto do voto lulista em 2022. Ele precisa avançar exatamente nas regiões de classe média que deram ampla vantagem para Bolsonaro. E um dado significativo parece não escapar ao candidato petista: Lula conquistou poucos votos entre os turnos na capital mato-grossense em 2022, conseguindo só dois pontos percentuais a mais, enquanto Bolsonaro saltou mais de seis pontos. Sinal de que mais forte que o bolsonarismo é o antipetismo (ou antilulismo), do qual ele tenta escapar.

É um sentimento que não parece tão forte em Natal, apesar da baixa aprovação da governadora. Por isso, o forte discurso contra a esquerda e o PT usado por Paulinho Freire pode acabar tendo o efeito contrário, reforçando a mesma associação com o partido que a sua adversária tenta fazer.

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Nas duas cidades, o desempenho pessoal dos candidatos também tem feito a diferença. Com estilos diferentes, ela enfática e loquaz, ele sereno, Natália e Lúdio têm se destacado nos debates, com propostas para públicos diversos e associação dos adversários a aspectos negativos do bolsonarismo. Abílio, um dos direitistas mais agressivos do Congresso, tenta amainar a própria imagem e citar, ao lado de Bolsonaro, o apoio no segundo turno de políticos como o governador Mauro Mendes (União). Mas se complica nos detalhes programáticos e na defesa dos aspectos mais extremos do bolsonarismo, como o 8/1 e as políticas na pandemia. Paulinho Freire teve atuação hesitante no primeiro debate do segundo turno e faltou aos dois seguintes.

De qualquer forma, seria um feito a vitória petista em uma das duas cidades. Depois de não conquistar nenhuma capital em 2020 e nem no primeiro turno em 2024, o partido parecia ter a melhor chance em Fortaleza, onde, até agora, o bolsonarista André Fernandes (PL) mantém uma vantagem pequena, mas consistente sobre Evandro Leitão (PT).

Morando em um dos centros nervosos do agronegócio, um cuiabano teria de dirigir 750 quilômetros, até Goiás Velho, para visitar uma cidade conquistada este ano pelo PT. Com vitória em 2024 em sete dos 167 municípios do Rio Grande do Norte e o controle do governo do estado, o partido é relativamente mais forte em Natal, que se torna a principal esperança petista em uma capital. Com uma mulher vestida de vermelho.

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