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Os Jogos Olímpicos de Paris 2024, que se iniciam em 26 de julho e vão até 11 de agosto, trazem à tona não apenas o espetáculo do esporte, mas também questões críticas relacionadas à saúde mental dos atletas de alta performance.
Nos últimos anos, atletas como Simone Biles têm trazido visibilidade para um problema que afeta muitos competidores de elite: os transtornos mentais.
Esta matéria contou com a colaboração do ortopedista Dr. Wagner Castropil, especialista em Medicina Esportiva, atuou como membro do Comitê Olímpico Brasileiro entre 2000 e 2008, e a Dra. Luciana Mancini Bari, médica com foco em saúde mental, explora as principais doenças, os motivos que levam a esses transtornos, casos conhecidos, e estratégias de tratamento e prevenção.
Principais Transtornos Mentais em Atletas Olímpicos
Transtorno de Ansiedade: A pressão para performar, expectativas públicas e autoimpostas, além de competições frequentes, contribuem significativamente para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Sintomas incluem medo excessivo, preocupação constante e crises de pânico.
Transtorno Depressivo: Lesões, derrotas, e a incapacidade de atingir metas podem levar à depressão. Sintomas incluem tristeza persistente, perda de interesse em atividades, alterações no apetite e no sono, e pensamentos suicidas.
Transtornos Alimentares: A necessidade de manter um certo peso para competições pode desencadear anorexia, bulimia e compulsão alimentar. Estes transtornos são particularmente comuns em esportes que valorizam a estética corporal, como ginástica e atletismo.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): A busca pela perfeição e o controle extremo sobre aspectos do treinamento e da competição podem levar ao desenvolvimento de TOC, caracterizado por pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos.
Transtorno Bipolar: Caracterizado por mudanças extremas de humor, o transtorno bipolar pode afetar a consistência do desempenho e a estabilidade emocional dos atletas.
Casos conhecidos
Simone Biles: A ginasta americana Simone Biles, uma das atletas mais bem-sucedidas da história, trouxe à luz a questão da saúde mental nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Biles se retirou de várias competições, citando a necessidade de focar em sua saúde mental. Sua decisão gerou uma discussão global sobre a importância de priorizar o bem-estar mental dos atletas. Simone Biles e outras atletas da ginástica artística dos Estados Unidos abriram processo de assédio e abuso sexual do médico esportivo Larry Nassar. Simone voltou a competir nas Olimpiadas de Paris 2024.
Michael Phelps: O nadador Michael Phelps, o atleta olímpico mais condecorado de todos os tempos, também falou abertamente sobre suas batalhas com a depressão e pensamentos suicidas. Phelps tem usado sua plataforma para advogar por maior atenção à saúde mental no esporte. Phelps quebrou 39 recordes mundiais durante sua carreira, mais do que qualquer outro nadador. Além disso, ele é detentor de outra marca impressionante: a de atleta com mais medalhas olímpicas na história. Foram 28 no total, sendo 23 delas de ouro. Para se ter noção do tamanho do feito, a ginasta Larisa Latynina, segunda colocada no ranking, possui “somente” nove medalhas de ouro.
Motivos para Transtornos Mentais
Pressão para Performar: Atletas de elite enfrentam uma pressão imensa para alcançar resultados excepcionais consistentemente. Essa pressão pode levar a altos níveis de estresse e ansiedade.
Expectativas Externas: Expectativas de treinadores, famílias, fãs e patrocinadores podem ser esmagadoras, criando um ambiente onde os atletas sentem que não podem falhar.
Lesões: Lesões podem ser devastadoras para atletas, não apenas fisicamente, mas também mentalmente. A incerteza sobre o retorno ao esporte e o impacto nas carreiras pode levar a sentimentos de desespero e depressão.
Isolamento Social: Treinamentos intensivos e competições frequentes podem levar ao isolamento social, limitando o tempo dos atletas com amigos e família, essenciais para um suporte emocional saudável.
Abuso e Traumas: Infelizmente, casos de abuso sexual e outros tipos de traumas são relatados no mundo do esporte. Esses eventos traumáticos podem ter efeitos profundos e duradouros na saúde mental dos atletas.
Fatores Adicionais
O excesso de carga de treino combinado com baixa recuperação pode levar ao overreaching e, eventualmente, à síndrome de overtraining (excesso de treinamento), que tem a depressão como um dos seus sintomas. Atualmente, diversos recursos ajudam a controlar a carga de treino dos atletas e a avaliar seu estado psicológico. Além disso, uma deficiência energética, onde o atleta não ingere calorias suficientes para suprir o gasto energético, pode resultar na Síndrome da Deficiência Energética Relativa no Esporte (RED-S), afetando não só a saúde mental, mas também a saúde metabólica, a imunidade e aumentando o risco de lesões.
Um atleta que conta com uma equipe interdisciplinar atualizada pode identificar que mudanças de humor, desmotivação e perda de prazer no treino podem estar relacionadas a déficits na recuperação física e emocional. A intervenção nesses casos deve ser multifacetada, envolvendo profissionais de saúde mental, ajustes na carga de treino, descanso, sono, avaliação nutricional e estratégias de descompressão emocional.
Tratamento e Prevenção
Apoio Psicológico: Acesso a psicólogos e terapeutas esportivos deve ser uma prioridade para equipes e organizações. Sessões regulares podem ajudar os atletas a lidar com o estresse e outros problemas emocionais.
Programas de Educação: Programas que educam atletas sobre a importância da saúde mental e como reconhecer sinais de transtornos podem ser valiosos. Esses programas devem incluir tópicos como gerenciamento de estresse, técnicas de relaxamento e resiliência emocional.
Ambientes de Suporte: Criar um ambiente de suporte dentro das equipes, onde os atletas se sintam à vontade para falar sobre suas dificuldades sem medo de julgamento, é crucial.
Tratamento Multidisciplinar: Abordagens que envolvem médicos, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas podem proporcionar um suporte mais holístico para os atletas.
Prevenção de Abuso: Organizações esportivas devem implementar políticas rigorosas para prevenir e responder a casos de abuso. Treinamentos de conscientização e canais de denúncia seguros são essenciais.
Campanhas de Sensibilização: Campanhas de sensibilização sobre a saúde mental no esporte podem ajudar a reduzir o estigma e encorajar mais atletas a buscar ajuda.
Como o COB – Comite Olímpico Brasileiro se preparou para cuidar da saúde mental dos atletas nas Olímpiadas de Paris
Conforme publicado na mídia, além da preparação física dos atletas, a dinâmica do Comitê Olímpico do Brasil (COB) nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 conta com um trabalho especial, focado na saúde mental da delegação. Nesta Olimpíada, são dez profissionais especializados em psicologia esportiva que estão nos locais de treino e competição em Paris.
“Toda a nossa preparação final é feita de uma forma bem alinhada para que possamos oferecer os melhores serviços possíveis aos atletas que estarão em Paris e nas subsedes dos Jogos. É um trabalho de rotina, é a continuação do trabalho que temos feito ao longo de todo o ciclo olímpico”, explica Eduardo Cillo, coordenador de psicologia esportiva do COB.
A saúde mental dos atletas olímpicos é um tema crítico que requer atenção e ação contínua. Enquanto a pressão para performar no mais alto nível não vai desaparecer, criar um ambiente que suporte o bem-estar mental pode fazer uma diferença significativa na vida dos atletas. Combinando tratamento adequado, programas de educação e prevenção, e uma cultura de suporte, podemos ajudar os atletas a alcançar não apenas a excelência esportiva, mas também uma vida equilibrada e saudável.
Wagner Castropil – Especializado em cirurgia de Joelho e Ombro com fellow no Hospital Lenox Hill (NY). Ex-atleta Olímpico de Judô (Barcelona-92), responsável pelos Departamentos Médicos da Confederação Brasileira de Judô, Esporte Clube Pinheiros e membro do Comitê Olímpico Brasileiro entre 2000 e 2008.
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