Superar indústria do tabaco exige ações baseadas em monitoramento constante

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O design de embalagens pode ser uma ferramenta de marketing fundamental para marcas que buscam atrair e reter a atenção do consumidor e ajudar seus produtos a se destacarem nas gôndolas e prateleiras. Embora ofereça um produto mais mortal do que a maioria, a indústria do tabaco é um ator agressivo neste jogo, constantemente aproveitando atributos das embalagens, incluindo estrutura, forma, cor, texto e imagens, para atrair e reter o maior número de consumidores para seus produtos viciantes.

Reduzir e restringir o uso desse espaço da embalagem para marketing é uma ferramenta poderosa no esforço para dissuadir o consumo de tabaco e nicotina. Mas para quase todas as regulamentações de embalagem e rotulagem que são introduzidas, surge uma tática da indústria do tabaco para explorar possíveis brechas ou minar as políticas já existentes.

No Brasil, por exemplo, as advertências sanitárias ocupam atualmente 100% da parte traseira, 30% da frente e 100% de um lado da embalagem. No entanto, a falta de implementação de embalagens padronizadas significa que as empresas de tabaco ainda são capazes de atrair o interesse do consumidor por meio do uso de cores vibrantes e brilhantes e designs elaborados que destacam a presença de sabores ou vendem a ideia de produtos “menos prejudiciais”.

A indústria do tabaco trabalha arduamente para minimizar o progresso da saúde pública e enfraquecer políticas que podem ameaçar seus lucros ou expor os riscos de seus produtos. É por isso que monitorar as práticas da indústria é crucial na luta global para acabar com a epidemia do tabaco.

De acordo com o Global Tobacco Control Progress Hub, plataforma que acompanha a implementação das disposições da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da OMS para combater a epidemia do tabaco, o Brasil ocupa a posição #1 na Região das Américas para reduzir a interferência da indústria do tabaco (Artigo 5 da CQCT).

Um dos motivos é a presença do Observatório de Estratégias da Indústria do Tabaco, sediado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Este centro monitora a interferência da indústria do tabaco e as estratégias de seus grupos de interesse, fornecendo dados e evidências que podem servir de apoio à implementação efetiva de políticas, como o fortalecimento das regulamentações para as embalagens e publicidade. Seu relatório de 2024 sobre o problema dos microplásticos e os impactos ambientais causados pela cadeia produtiva do tabaco ajudou a informar medidas globais para lidar com o impacto negativo do tabaco no meio ambiente – adotado durante a Conferência das Partes deste ano (COP10) da CQCT da OMS.

Outro recurso de monitoramento é o Tobacco Pack Surveillance System (TPackSS) do Instituto para o Controle Global do Tabaco, um projeto criado para documentar sistematicamente a grande variedade de maços de cigarro disponíveis nos países de baixa e média renda com o maior número de pessoas que fumam, monitorar a implementação de advertências sanitárias obrigatórias e identificar características de design de embalagens e atrativos de marketing que podem violar ou desviar dos requisitos de cada país.

O TPackSS também inclui uma base de dados online dos produtos que é acessível ao público, bem como informações sobre os requisitos das advertências sanitárias e a conformidade com cada legislação. Um exemplo recente de tática descoberta e relatada por meio do monitoramento do TPackSS é o uso de materiais destacáveis dentro e fora dos maços de cigarro para expandir o espaço de marketing dos fabricantes.

A partir de uma grande amostra de 14 países coletada para análise, incluindo o Brasil, os pesquisadores identificaram que o espaço adicional fornecido por esses materiais produziu uma plataforma de marketing adicional – em alguns casos, contornando as restrições de embalagem destinadas a limitar exatamente este tipo de marketing.

Com ferramentas de monitoramento da indústria à sua disposição, o Brasil continua bem-posicionado não apenas para estudar e informar os cidadãos sobre a interferência da indústria do tabaco, mas também para impedi-la: além de manter e expandir seus esforços de monitoramento, há oportunidades para fortalecer as restrições às embalagens de tabaco e fornecer uma aplicação mais rigorosa das medidas atuais e futuras.

Quando confrontado com um adversário motivado pelo dinheiro, que está sempre pensando dois passos à frente, é essencial desenvolver e implementar políticas oportunas e que salvam vidas, informadas por evidências atuais e aprendizados do monitoramento da indústria do tabaco.

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